Tenho que confessar que quando comecei a prestar atenção no fenômeno dos infográficos e seu potencial educacional, pouco mais de um ano atrás, em outubro de 2013, graças às aulas que tivemos com a minha atual orientadora, a professora Reinildes Dias, da UFMG, fiz uma pesquisa geral utilizando as ferramentas disponíveis e bases de dados que conheço e encontrei muitas poucas referências sobre esse tema; ou seja, existia uma grande quantidade de publicações sobre infográficos, com base principalmente no jornalismo, comunicação e outras áreas que trabalham com visualização de dados, mas pouco havia-se escrito sobre seus usos na educação, principalmente na sua vertente prática e não na teórica.
O panorama tem mudado aceleradamente, pois nestes 13 meses apareceu uma expressiva quantidade de artigos dedicados ao tema do nosso interesse aqui, ou seja, o uso educacional dos infográficos e relatos de experiências de ensino. Basta ver na lista de referências que forma parte deste blog, a quantidade de entradas realizadas posteriormente à pesquisa inicial, na qual tem contribuído também vários professores especialistas com conhecimentos nesta área e que está espelhado em um documento em Google drive no qual todos podem contribuir.
Os próprios livros didáticos, pelo menos dos elaborados para ensino de línguas estrangeiras no Brasil, apenas recentemente é que começaram a prestar atenção e nomear adequadamente como infográficos essse tipo de construção multimodal, mas desse tema falarei com detalhe em outras postagens neste blog.
A partir de novembro do ano passado configurei a ferramenta do Google para enviar avisos automáticos quando encontrar textos acadêmicos com termos como infographic, infográficos ou infografía e são numerosas as referências coletadas neste intervalo de tempo.
Por exemplo, hoje recebi dois avisos de artigos diferentes e vou fazer uma breve resenha deles a continuação.
Figura 1- Fragmento da capa do artigo de Davidson (2014) produzida pelo Thinkstock.
A autora do primeiro artigo Rosemary Davidson é uma professora de química em uma escola de Missouri, estado de Texas. Ela mostra como trabalha com os infográficos e passa a explicar os
detalhes de três projetos diferentes realizados com os alunos com a
utilização desse tipo de construção multimodal: 1) a reciclagem de
embalagens de café, 2) a contaminação das águas da região e 3) a
qualidade do ar, também da região.
Os alunos utilizaram uma guia que os orientou no processo de
elaboração dos infográficos para marcar a presença, ausência ou
aspectos para melhorar em cada item a considerar (ver Figura 2). Também foram os
próprios alunos designers os que responderam as perguntas de uma parte
dos alunos e entre todos elegeram qual foi o melhor infográfico
produzido de cada tema que foi trabalhado.
Seguem dois fragmentos interessantes do artigo:
Descobri que meus alunos participam com sucesso nas aulas de ciências quando trabalhamos com infográficos. Eles participam melhor, não apenas para a realização da pesquisa para projetos de sala de aula, como também na apresentação dos resultados de pesquisas para seus colegas (DAVIDSON, 2014, p. 34)
Meus alunos se conectaram com os infográficos mais profundamente do que eles fazem com as apresentações de texto ou de PowerPoint. A criação de infográficos os obriga a tomar decisões sobre qual informação é essencial e exige que eles encontrem evidências para apoiar seu ponto de de vista. A criação de infográficos também os faz utilizar diversas normas científicas (DAVIDSON, 2014, p. 34).
Outros dois comentários da autora sobre as vantagens percebidas é que os alunos podem mostrar seus trabalhos em poucos minutos, ou seja, em um tempo muito menor que se fosse um poster tradicional e também que as mudanças e melhorias no design do projeto podem ser feitos de forma quase instantânea.(p. 34).
A autora menciona nas conclusões que muitos de seus alunos ficaram curiosos com a mistura de arte e ciência no trabalho com os projetos e que o pensamento representacional é uma habilidade importante para os alunos que pode ser desenvolvido nas aulas com esse tipo de projetos envolvendo infográficos (DAVIDSON, 2014, p. 38).
Figura 2 - Folha com itens para conferir que serviu de guia para o trabalho dos alunos na produção de infográficos (DAVIDSON, 2014, p. 37).
O segundo texto recebido hoje é na realidade um resumo estendido publicado no livro de resumos de um congresso sobre letramento informacional.
Seus autores, Pinar Kibar e Buket Akkoyunlu, apresentam uma experiência de trabalho com infográficos preparados por alunos universitários com a finalidade de reforçar o letramento visual deles.
A avaliação por meio de uma rubrica para medir o letramento visual alcançado mostrou que os valores de pontuação nos itens de "visualização" e de "componentes" foram relativamente menores que os referentes às "cores", "fontes" e "informações".
De novo chama a nossa atenção o uso de rubricas ou grades de autoavaliação que estimamos que são de grande ajuda na orientação do trabalho em projetos digitais, de um modo muito similar a como é feito com a metodologia WebQuest (Desafios na web).
Estas duas referências foram acrescentadas à lista que mantemos neste blog.
Referências
DAVIDSON, Rosemary. Using infographics in the Science classroom. Three
investigations in which students present their results in infographics.
The Science Teacher, p. 34-39, March 2014.
http://crisp.southernct.edu/images/8/82/Infographics_NSTA.pdf
KIBAR, Pınar Nuhoğlu.; AKKOYUNLU, Buket. New Approach to Equip Students with Visual Literacy Skills: Use of Infographics in Education. In: Špiranec, Sonja et al. (Eds.). The Second European Conference on Information Literacy (ECIL), Zagreb: 2014, p. 111.
http://ecil2014.ilconf.org/wp-content/uploads/2014/11/ecil2014_abstracts.pdf